domingo, 29 de setembro de 2013

Ressonância 21º

Capitulo Vinte e Um

Os ilusionistas

  - Quem diria que shopping podiam ser sombrio? - Disse Samira.
  Os três estavam acabando de vasculhar o terceiro andar e iam em direção a escada para o próximo andar. Eles não tinham vasculhado os dois primeiros andares ainda, mas acharam melhor subir o que faltava e depois descer tudo.
  - É um shopping comum Samira - Disse Lukas - Só que sem luz.
  - Nada nesse andar, vamos subir. - Disse Diego na metade da escadaria.
  O quarto andar parecia estar do mesmo jeito que o terceiro. As lojas fechadas, uma escuridão perturbadora, e um silencio desconfiante. Cada passo que eles davam, era como se algo fosse surgir do chão e agarrar seus pés.
  Diego trouxera uma pequena lanterna e ia na frente iluminando o caminho, Samira estava logo atras observando cada detalhe via e Lukas estava por ultimo, sempre atento a qualquer barulho que viesse do caminho já percorrido por eles.
  - Tem certeza que é esse o lugar? - Perguntou Diego - Está normal demais.
  - Fique de olhos abertos - Disse Samira - Aquelas coisas gostam de aparecer do nada.
  Os três estavam se distraindo com a conversa, e nem prestaram a atenção quando viraram a esquina. Os três deram de cara com um homem enorme e careca, usava um terno e tinha uma expressão seria. Ele quase matou Samira de susto, e os meninos não conseguiram conter  cara de espanto.
  - O que vocês estão fazendo aqui? - Perguntou ele.
***
  O lugar tinha ficado meio destruído, mas Trevor não podia fazer nada a respeito. Passou por meio dos destroços e caminhou em direção a saída. Perto da entrada do cemitério quando viu um homem de meia idade parado olhando para ele. Um meio sorriso se formava em seu rosto, mas não tirava a seriedade que ele tentava transmitir. Apoiado em um guarda-chuva, parecia esperar por Trevor.
  - Nunca imaginei que o próprio ceifador viria trazer a paz para um de suas próprios locais. - Disse o senhor.
  - Não é nada disso senhor - Disse Trevor com um pequeno sorriso.
  - Não?
  - Não senhor. Estou aqui apenas para cumprir a missão que foi designada á mim.
  O senhor começou a pensar.
  - Missão? Sim, sim, agora me lembro. Coloquei um panfleto alguns dias atrás. Bom, tenho que agradecer pelo serviço.
  - Não tem que agradecer - Disse Trevor- Fiz meu trabalho apenas. Agora tenho que ir.
  - Claro, mas antes leve isso com você - Disse o senhor oferecendo o guarda chuva - Sinto que vai precisar dele.
  Trevor não disse nada, apenas pegou o guarda-chuva, e se virou em direção a saída.
  - E leve está copia da chave como pagamento extra pelo trabalho - Continuou o homem - Supondo que você teve que pular o muro para entrar aqui. Mas agora pode entrar quando bem quiser.
  - Já que o senhor insiste.
  Quando chegou ao portão virou para trás, mas o senhor já não estava mais lá.
***
  - Vou repetir - Disse o segurança - O que vocês estão fazendo aqui?
  Os três congelaram. Nenhum dizia uma palavra, respirar era a unica coisa que eles tinham em mente. O que vamos fazer? Pensou Lukas. Fiquei pensando em um esquema para entrar sem sermos notados e acabei esquecendo dos seguranças. 
  - Viemos aqui fazer uma missão de reconhecimento, em nome da academia canadense - Revelou Diego.
  - Diego! - Repreendeu Lukas.
  O segurança ficou olhando para eles por alguns segundos, depois sua expressão suavizou e então ele riu, riu de verdade.
  - Então eles mandaram gente para investigar os acontecimentos. Fui eu que mandei um panfleto de ajuda. Podem vasculhar o shopping a vontade, qualquer duvida é só me chamar.
  Eles concordaram e continuaram sua procura.
  - Como ele sabe da academia? - Perguntou Samira
  - Não sei - Respondeu Lukas - Se apenas alquimistas podem vê-la, como aquele guarda saberia? Ou ele é um alquimista ou um humano com ligação a magia.
  - Vamos perguntar a Dianna quando voltarmos - Disse Diego - Agora foco na missão atual.
  Decidiram que os três deveriam ir um do lado do outro, para não ter mais uma surpresa desagradável. Ficaram o resto do caminho do quarto andar em silêncio, não por falta de assusto, mas sem nenhum barulho desnecessário, era mais fácil de ouvir passos ou vozes.
  Samira começou a dar trabalho quando passaram em uma loja de ''tudo para roqueiros''. Ela até pensou em roubar algumas coisas e colocar a culpa em quem quer que seja que estava assaltando o lugar, as Lukas tirou-a do transe.
  - Não a nada aqui, vamos para o ultimo andar e depois descemos - Disse Diego.
  Lukas começou a subir as escadas, com Samira logo atrás, quando eles escutaram um barulho de vidro caindo no chão. Automaticamente, Lukas virou para trás se preparando para gritar com Diego, imaginando que ele tinha quebrado mais alguma coisa. Logo viu que Diego estava atrás de Samira e nada tinha feito, então percebeu que o barulho vinha de cima. Os três correram até terminar as escadas, Samira continuou avançando e parou atrás de um piar. Soltou seus cabelos e as armas apareceram em suas mãos.
  - Venham - Sussurrou ela.
  Os dois foram ao encontro dela. Quando chegaram, puderam ver melhor a situação. Em uma joalheria havia dois homens e uma mulher com aparência de uns vinte e cinco anos. Usavam roupas casuais, como se não estivessem se preocupando se fossem pegos ou não.
  - Estão prontos? - Perguntou ela
  - Você sabe que eu já nasci pronto - Disse Diego
  - Vamos nessa - Completou Lukas
***
  Trevor resolveu voltar a pé todo o caminho. Ainda estava escuro e as ruas desertas. O ar frio era ótimo para refrescar a memoria, e Trevor adorava isso.
  Caminhando, uma gota caiu em sua cabeça, olhando para o céu, varias outras começaram a cair, e logo estava chovendo. Abriu o guarda-chuva dado pelo senhor e continuou caminhando. Como ele sabia que ia chover? Foi a unica pergunta que Trevor poderia pensar naquele momento.
***
  Samira se escondeu atrás de outro pilar, do lado oposto do pilar onde estava, que por sinal era onde Lukas permaneceu para caso de emergência. Torcendo para que tudo desce certo, Diego saiu de seu esconderijo e foi caminhando até a joalheria. Demorou muito para os três notarem a presença de Diego. Eu poderia roubar a loja inteira com eles ali dentro que nem me notariam. Pensou ele.
  Quando o primeiro o notou cutucou a do lado o disse:
  - Chefe, temos companhia. 
  O mulher que estava meio se virou, mas não pareceu impressionada, intimidada, ou assustada. Era como se Diego fosse algo insignificante. 
  - Não me interessa, esse cara não é o primeiro que aparece aqui, e pelo jeito não sera o ultimo. Acabem com esse moleque.
  O do outro lado se levantou e pegou algo do cinto que brilhava com a pouca luz que tinha ali. O homem andou metade do caminho e correu a outra metade. Um pequeno sorriso se formou no rosto de Diego, quando o homem parou, percebendo que havia uma lamina maior a centímetros de seu pescoço.
  - Roubar é tão feio - Disse Diego - Sabia disso?
  O cara não respondeu, mas pareceu se irritar com a pergunta de Diego. 
  - Ora, ora, ora - Disse a que seria o ''chefe'' - Não precisamos derramar uma gota de sangue aqui, não é? Abaixe isso ai e vamos conversar.
  Diego obedeceu e abaixou sua espada. O cara deu alguns passos para trás e ficou lado a lado com seus parceiros.
  - O que você quer? Joias? Nós podemos te dar algumas, só nos deixe terminar aqui, ok? - Disse a chefe.
  - Não é assim que funciona - Disse Diego animado - Eu mato vocês, e ai vocês voltam para o mundo de onde vieram e todos ficam felizes.
  Samira estava preparada para atacar, e Lukas já estava com a flecha no arco.
  Diego não exitou e desferiu um golpe na chefe. Os dois que estavam ao seu lado deram um pulo para trás, e a chefe conseguiu desviar, mas a ponta da espada acabou acertando seu rosto. Ela virou furiosa e lançou um olhar de ódio para Diego. O sangue começou a escorrer pelo pequeno ferimento causado pela espada. O que? Pensou Diego assustado. O sangue não era como os de um Onis, não eram negros, eram normais. Vermelhos.
  - Seu desgraçado - Gritou a Mulher.
  O que deu nele? Perguntou Lukas a si mesmo. Por que parou?
  Diego não estava intendendo o que realmente estava acontecendo. Olhou fixamente para os três  na esperança de não encontra alma nenhuma. Mas se decepcionou ao ver três esferas azuis.São humanos. Humanos comuns. 
  - Acabem com a raça desse cara. - Disse a chefe nervosa.
  Os seus dois comparsas não pareciam levar jeito para ladrão. Eram desengonçados e não seguravam direito as facas que tinham na mão. eles investiam contra Diego, que não parecia ter nenhuma dificuldade em desviar.
  Um tiro ecoou pelo andar. Samira apareceu irritada e tinha uma colt apontada para cada um dos homens. é incrível como ela passa de fofinha para demônio quando ativa as colts. Pensou Diego.
  - Dá pra você parar com essa brincadeira de pega pega e acabar logo com esses três? - Gritou ela.
  Ela acabou com todo o plano. Pensou Lukas, saindo do seu esconderijo, já sabendo que teria que ser do modo difícil mais uma vez.
  - Chefe - Disse o do lado direito - Eles são três. 
  - Vocês dois saíram do seus lugares. - disse Diego indignado. 
  - Você tava brincando com eles quando deveria destruí-los - Comentou Lukas.
  A chefe começou a rir freneticamente. 
  - Ta rindo de que? - Disse Samira mais irritada do que antes.
  - Nada não - Disse a Mulher tirando uma coisa pequena e redonda do bolso. - Adeus.
  Jogando o objeto no chão, uma cortina de fumaça apareceu e quando se dispersou, os três haviam sumido.
  - Cade eles? - Perguntou Diego
  - Ali - Gritou Samira já correndo em direção a eles.
  A chefe ia na frente, e seus dois subordinados desengonçados iam atrás. Estão planejando alguma coisa. Pensou Lukas. Qualquer um que queira fujir, iria correr para a saída, não para o lado oposto.
  Samira corria feito uma louca atrás dos caras.
  - Samira - Disse Lukas - Espera, eles estão tramando alguma coisa.
  Mas ela não ouviu apenas continuou correndo.

sábado, 21 de setembro de 2013

Ressonância 20º

Capitulo Vinte

O Ceifador


  O clima dentro do táxi estava em perfeita harmonia. Até mesmo Trevor estava participando do bate-papo que rolava no banco de trás.
  Não demorou muito para o táxi parar em frente ao shopping. Os três de despediram de Trevor e saíram do táxi.
  O clima dentro do veiculo mudou completamente. Trevor manteve o silêncio a todo o momento.
  - A senhorita que pagou a corrida me disse que o senhor pararia no meio do caminho, onde posso deixa-lo? - Perguntou o taxista.
  - Naquela esquina depois da casa branca esta ótimo. - Disse Trevor sem muita empolgação.
  O motorista mal esperou Trevor sair do carro e já saiu em disparada. Trevor não deu muita atenção, apenas se virou e começou a caminhar o resto do caminho em direção ao cemitério.
***
  - Ué - Exclamou Samira - Como é que a gente vai entrar?
  Os três estavam em frente ao shopping, parados, pensando no que fazer. O lugar tinha mais de cinco andares e, por ser um shopping, deveria ser bem protegido.
  - Que tal por ali? - Disse Lukas apontando para a janela do que seria o terceiro andar.
  - Porque lá? - Perguntou Diego
  - Por que é a janela mais próxima do chão, e eu duvido muito que tenha alguma câmera de segurança ou algo do tipo ali.
  - Ótimo - Ironizou Samira - E como vamos chegar lá em cima?
  Todos começaram a pensar em modos de subir naquela janela. Diego teve até a brilhante ideia de tentar a porta de entrada, mas como esperado, estava trancada.
  - Você poderia usar suas setas, Samira - Disse Diego.
  Lukas e Samira começaram a pensar na hipótese de serem jogados.
  O shopping é um prédio comercial, o que significa que cada andar deve ter uns 3,50m. Pensou Samira.
  Sabendo que a gravidade não vai estar ao nosso favor. Pensou Lukas.
  A probabilidade da gente não conseguir alcançar a janela e se arrebentar no chão é grande. Voltou a pensar Samira. Ou seja...
  - É impossível - Disse Lukas e Samira juntos.
  - Eu aposto que se Trevor estivesse aqui, daria um jeito muito louco de invadir esse lugar. - Resmungou Diego.
  - Por que? - Perguntou Lukas.
  - Vocês não sabem a acrobacia que ele fez, chegando ao primeiro andar sem pisar no térreo quando estávamos achando um jeito de entrar na fabrica.
  - Não podemos fazer a mesma coisa que ele fez? - Perguntou Samira
  - Acho que não, só funcionam com armas que tenham laminas, elas precisam fincar nas paredes.
  - Então voltamos a estaca zero. - Concluiu Samira.
  Por que tiveram que separa nos quatro juto com uma missão como essa. Pensou Diego. Trevor deve estar se saindo melhor que a gente.
***
  Cemitérios provocam arrepios em qualquer um, menos em Trevor.
  Com apenas a iluminação da lua, todas as lapides criavam sombras pavorosas pelo chão. Arvores de poucos galhos balançavam com o vento. Mas nada de incomum.
  Tudo na mais perfeita paz e tranquilidade. Pensou Trevor.
  Ele caminhou por entre os túmulos a procura de alguma coisa suspeita, mas nada encontrou. Quando algo despertou sua curiosidade. Bem no centro do cemitério havia uma pequena capela com duas torres pequenas e uma torre grande com um pequeno sino. Trevor caminhou até o local e percebeu que a porta estava semi-aberta. Curvando o corpo ele viu que havia velas acesas no interior da capela.
  Com cuidado, Trevor empurrou a porta, que, por sua sorte, não fez barulho algum.
  O interior parecia ser maior que o lado exterior. Duas fileiras de cadeiras feitas de madeira rustica enchia o local, candelabros antigos cobertos com teias de aranha pareciam não ser usados a seculos, velas acesas estavam espalhadas pelo altar eram a unica iluminação que tinha. No sétimo banco á esquerda, havia uma mulher sentada olhando para baixo. Não dava para ver seu rosto, apenas os cabelos embaraçados.
  - Com licença. - Disse ele.
  A mulher se virou lentamente. O primeiro problema que Trevor notou foi que a orelha da mulher estava pela metade, seus olhos estavam esbugalhados e vermelhos, não tinha mais nariz, e uma parte de sua bochecha estava em carne viva. Trevor ficou impressionado com a situação da mulher.
  - Mas o que? - Foi a única coisa que disse.
***
  - E se...
  - Chega Diego - Irritou-se Samira - Suas ideias idiotas estão me dando dor de cabeça.
  - Pelo menos eu estou tendo alguma.
  - Chega vocês dois - Interrompeu Lukas - Temos que ficar unidos e pensar juntos.
  - Se pelo menos tivéssemos um escada. - Disse Samira cansada.
  Foi ai que Lukas teve uma ideia. Uma escada. Pensou ele. Eu posso fazer uma.
  - Eu pensei em algo. - Começou ele - Posso atirar flechas formando uma escada levando a gente lá pra cima. Mas só vou conseguir atirar com precisão até uma certa altura.
  - Pode deixar o resto comigo, quando chegarmos na ultima flecha, eu uso minha habilidade para impulsionar a gente pra cima, como nos vamos estar mais próximos da janela, a chance de conseguirmos é muito grande.
  - Sim - Concordou Lukas.
  - Vocês me dão medo as vezes - admitiu Diego - Vocês falam como se já soubessem a resposta um do outro. Como vocês conseguem fazer isso?
  - Não faço a minima ideia do que você esta falando - Disse Lukas.
  Samira concordou.
  Lukas tomou uma certa distancia e com precisão começou a atirar uma flecha atrás da outra, formando um caminho ziguezagueado na parede, Lukas tomou cuidado para não atirar fraco demais e a flecha não entrar corretamente no concreto e cair com o peso de algum dos três. Alguns minutos depois, uma escada feita de flechas estava formada, ocupando um pouco mais de dois terços do caminho.
  - Vamos lá - Disse Lukas segurando na primeira flecha antes de subir.
  Os três começaram a subir. Primeiro Lukas, depois Samira e por ultimo Diego. Foi uma subida fácil e tranquila, nenhuma flecha ameaçou quebrar ou sair da parede.
  - Ufa - Disse Diego - Tudo bem até agora.
  - Sim, mas ainda falta umas dez flecha pra subir. - Disse Lukas.
  Nenhum dos três olhou para baixo, se Samira estiver certa, eles estavam a quase de sete metros do chão.
  - Samira, sua vez. - Disse Diego.
  Samira não disse nada, apenas se concentro na parede. Uma seta se formou apontando para cima, e em questão de segundos, os três foram arremessados em direção ao céu.
  Samira caiu no parapeito da janela. Ainda bem que tem um espaço grande antes da janela. Pensou ela. Diego foi o segundo, caindo ao seu lado. Lukas também desceu, mas por pouco ele não cai três andares até o chão.
  - Estão todos bem? - Perguntou Samira.
  Os meninos balançaram a cabeça em sinal de ''sim''.
  - Muito bem - Continuou ela - Agora só falta abrir a janela.
  - Deixem isso comigo - Disse Diego.
  Ele tocou em seu bracelete, retirando a espada.
  - O que você vai fazer? - Perguntou Lukas.
  - Relaxa, eu vejo isso nos filmes o tempo todo.
  Diego tocou com a lamina no vidro e  começou a fazer um circulo. Quando terminou, dava para ver o risco causado pela espada. Um circulo nem um pouco perfeito.
  - Agora é só empurrar - Disse ele.
  Quando ele tocou no circulo feito, não só a parte riscada que caiu, mas o vidro da janela inteira. Quando tocou no chão, estilhaçou por todos os lados. Lukas fuzilou Diego com os olhos.
  - Não vamos fazer barulho, ok? - Sussurrou Samira.
  - Gomen Nasai(1) - Disse Diego
  Tomando cuidado para não fazer mais barulho do que já fizeram, os três entraram no shopping, já preparados para o pior.
  Como Trevor deve estar se saindo? Perguntou Samira mentalmente.
***
  Trevor foi jogado contra a parede da capela. Não sabendo o que o atingiu, virou-se para a unica coisa ''viva'' que tinha no local. A mulher havia se levantado, mas não se mexia. Trevor correu em sua direção, e com a maior facilidade do mundo, cortou-a no meio. Fácil demais. Pensou ele.
  A mulher, que virara pó, começou a se refaze. Sabia. Mas novamente, Trevor baixou a guarda, ele sentiu algo em suas costas, antes de ser jogado contra a porta da capela. Trevor achou que seria sorte o fato da porta estar aberta, mas não foi. Do lado de fora, seja lá quem estava puxando ele, fez com que ele fosse de encontro com as lapides do cemitério. Trevor perdeu as contas depois da decima quarta lapide que ele quebrou com o próprio corpo.
  Quando finalmente parou de se chocar com as lapides, foi arremessado com tamanha força que qualquer ser humano comum teria quebrado a coluna. Trevor não cairia no mesmo truque duas vezes, com um rápido movimento, ele ativou sua foice e a fincou no chão, diminuindo sua velocidade e assim, ele caiu em pé. Procurando pelo agressor, encontrou algo que seria pior, um grupo de pessoas iguais á aquela mulher vindo em sua direção.
  Com a foice nas mãos, Trevor foi em direção a eles. Não sabia quem tinha sido seu agressor, mas sabia que aqueles caras não iriam ajuda-lo. Cada cara que ele cortava, voava pó para todos os lados. Mas eles voltavam segundos depois. Eles não tem fim. Então, outra coisa chamou sua atenção. No meio daquele bando de gente imortal, tinha um homem completamente diferente.
  Trevor tentou alcança-lo, mas os outros não deixavam. Trevor sabia que para passar por eles teria que ser a moda antiga. Firmou as mãos no cabo da foice e investiu uma serie de golpes contra a muralha de proteção de homens imortais. Por sorte, Trevor conseguiu passar por eles antes que se refizessem, mas aquilo estava deixando-o cansado. Dessa vez, estava bem próximo do homem misterioso e podia vê-lo claramente agora.
  Era bem parecido com os onis que ele tinha enfrentado na fabrica a uns dias atrás. Era alto e com cabelos compridos e perfeitamente alinhados. Usava um pano preto por cima do corpo, como se estivesse de luto. Olhava para o horizonte e não parecia ter visto Trevor.
  Assim, Trevor aproveitou a oportunidade e, tomando um impulso com os pés, pulou para surpreender o inimigo e atingi-lo com a foice, mas no ultimo instante um coisa grande e dura acertou em cheio a barriga de Trevor.
  - Você deveria ter pelo menos um pingo de respeito por esses mortos aqui enterrados. - Disse o homem em um sussurro. - Que descansam procurando a paz. Idiotas, não? Ninguém encontra a paz neste mundo, nem em nenhum outro.
  Trevor ouvia, mas não ligava. Apenas voltou a ficar de pé e recomeçar sua tentativa de atingir o homem. Oni, com certeza. Pensou Trevor. Nenhum humano ficaria tão calmo e sereno quando esta sendo atacador por uma foice e ter um exercito de mortos vivos ao seu lado. Tentou mais uma investida, mas outra coisa veio em sua direção. Já preparado, Trevor bateu com a ponta do cabo da foice no chão e pegou impulso para cima, passando a poucos centímetros do que o atingiria. Voltando ao chão ele viu o objeto. Era uma lapide enorme que se desintegrou quando chegou ao chão.
  Sem hesitar, correu em direção ao homem e com um rápido movimento desferiu o golpe. A lamina bateu em algo duro e quando Trevor olhou, se surpreendeu. O homem não estava mais lá, no lugar havia outra lapide. Trevor se virou para procurar o inimigo, mas não teve tempo. Sentiu novamente algo o segurar por trás e foi arremessado quebrando mais três lapides que ali estavam.
  Mantendo-se ajoelhado no chão, Trevor percebeu que os mortos-vivos cercavam ele, mas permaneciam á uma distancia.
  - Meus pequenos - Disse o homem - Façam com que esse garoto faça parte do mundo de vocês.
  Aquilo deveria ser o comando que eles estavam esperando para atacar. Uma risada ecoou pelo cemitério. Trevor se levantava lentamente e de cabeça baixa. Os mortos corriam em sua direção e estavam a apenas um metro de distancia quando Trevor fez um rápido movimento com a foice. Todos os inimigos viraram pó segundos depois.
  Sem esperar ou pensar correu em direção ao homem. Mantinha-se curvado e com um sorriso diabólico no rosto. Quando chegou próximo do inimigo deu um salto e atacou com a foice. O homem parou o ataque com outra lapide.
  - Como pode ver - Disse o homem com a maior calma do mundo - Não pode me acertar.
  Com um rápido movimento, Trevor acertou o homem com um chute no rosto. Ele por sua vez, deu um giro, mas acabou caindo em pé e antes que pudesse recuperar o folego percebeu que Trevor estava próximo novamente. Deduzindo que ele iria atacar com a foice novamente, fez outra lapide surgir do seu lado, mas Trevor foi mais esperto. De vez bater com a lamina onde tinha a proteção, bateu com o cabo da foice, atingiu o braço esquerdo do homem com a lamina.
  Sangue negro começou a jorrar do braço dele, enquanto Trevor ria cada vez mais. Aproveitando que o homem se assustou com o ataque que levou, Trevor se abaixou e cortou as pernas dele.
  - Não pode ser. - Disse ele.
  Em uma velocidade impressionante, Trevor deu um giro e a lamina cortou o homem ao meio.
  Todos os mortos vivos que estavam se refazendo voltaram a se desintegrar, deixando Trevor sozinho em um cemitério devastado. O sorriso sumiu do rosto dele, e ao olhar para a lua no céu disse:
  - Restaurei a paz deste local.
  Sabendo que a missão havia terminado, Trevor caminhou até o portão de entrada do cemitério.
  - Nunca saio em paz de uma missão de reconhecimento, sempre tem algo pra perturbar - Resmungo ele - Por outro lado, foi até que divertido vir aqui. Mas, como será que estão se saindo aqueles três?

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(1) - Me desculpe ou sinto muito.
P. S. De hoje em diante, os capítulos terão nomes.

domingo, 15 de setembro de 2013

Ressonância 19º

Capitulo Dezenove 


  O sol das três da tarde era insuportável. As janelas da academia eram enorme, o que facilitava a entrada dos raios quentes do sol. Os quatros estava na biblioteca esperando até Dianna acabar de resolver algumas coisas que ela estava fazendo.
  Lukas andava de um lado para o outro, explorando o lugar. Ele sumia atrás de uma pilha de livros e reaparecia em outra com um livro na mão.
  - Este lugar é perfeito - Disse ele.
  Dianna apareceu entre colunas e colunas de livros. Mas não estava sozinha. Uma mulher de aparentar ter uns 33 anos sorria enquanto vinha em nossa direção. As mechas loiras em seu cabelo escuro pareciam brilhar com o sol que passava pela janela. Seus olhos eram cor de mel, escondidos atrás de um óculos de leitura. Sua pele era ainda mais clara durante o dia.
  - Meninos - Chamou Dianna - Juntem-se aqui.
  Lukas apareceu segurando um livro de capa preta nas mão.
  - Posso pegar para ler? - Perguntou ele
  - Claro - Respondeu a mulher - Só preciso fazer seu cadastro antes.
  Ele concordou e se juntou aos outros.
  - Muito bem - Continuou Dianna - Essa é Cássia, a bibliotecária deste grande salão. Ela vai ajudar vocês com o que precisarem. Tenho um compromisso agora e não vou poder ficar. Então, qualquer duvida pergunte a Cássia.
  - Mas, o que você queria com a gente? - Perguntou Diego.
  - Como eu disse, Cássia ira responder as suas perguntas, agora preciso ir. Até mais.
  Dianna saiu cantarolando em um sussurro, deixando os quatro sozinhos com Cássia. Eles ficaram olhando para ela esperando que dissesse alguma coisa.
  - Muito bem - Disse Cássia - Por onde começo? Ah, sim, por aqui.
  Os quatro a seguiram até chegarem em uma ala onde tinha fileiras e fileiros de mesas. No centro tinha um balcão circular de madeira com uma escrivaninha, um vaso de planta e uma lata de lixo minuscula.
  - Antes que você perguntem qualquer coisa - Começou Cássia - Quero mostrar uma coisa. Samantha deu a liberdade de mostrar aos interessados uma coisa que antes não era muito comum de mostras aos integrantes da academia.
  Ela pegou um envelope da mesa e entregou para Samira.
  - Abra e satisfaça sua curiosidade. - Concluiu ela.
  Samira abriu o envelope com o maior cuidado, como se uma bomba estivesse la dentro. Um papel dobrado deslizou do interior do envelope até a mão de Samira. Ela desdobrou. Aquilo era do tamanho de uma folha de caderno.
  - Não pode ser - Disse ela assustada.
  - Há tantos assim? - Perguntou Lukas.

  - Não pode existir tantos deles - Disse Diego
  - Como? - Perguntou Trevor.
  - O mundo esta critico hoje em dia. Os Onis estão evoluindo cada vez mais. Vocês já devem estar sabendo de onde os Onis vem. Então, não é de se espantar que tenha muitos deles. A raça humana existe a muito tempo, e os Onis também. Há muitos deles por ai. 
  - Se há muitos deles, como vocês pretendem fazer para destruí-los? - Perguntou Lukas - Se os Onis nascem a partir dos seres humanos, como vocês acham que podemos eliminar essas criaturas do mundo?
  Por um momento, Cássia ficou seria, mas logo voltou a sorrir para eles.
  - Sei que vocês arrumarão um jeito - Concluiu ela.
  - Mas - Perguntou Diego - O que acontece quando eles chegam no 80?
  - Não se sabe ao certo - Respondeu ela - Alguns dizem que os Onis podem chegar ao nível 100, mas são apenas boatos.
   Diego queria acreditar que era apenas boatos, mas algo não deixava ele acreditar nisso.
  - Bem, chega de falar de coisas ruins. - Alegrou-se Cássia - Como já expliquei sobre os inimigos que vocês podem enfrentar em qualquer lugar, o quadro de missões esta livre para vocês escolherem qualquer uma que desejarem. Porém, reservei uma missão para vocês. Aqui está.
  Lukas pegou o papel e leu em voz alta:
  - Shopping Center. Produtos desaparecidos das lojas sem nenhum tipo de pista. Suspeitos de atividade paranormal durante a noite. C$5.000,00.
  - Sei que não é muito, mas para um missão de reconhecimento esta ótimo - Comentou Cássia.
  - Missão de reconhecimento? - Perguntou Samira, Lukas e Diego ao mesmo tempo.
  - Sim.
  - E o que seria isso? - Perguntou Lukas
  Cássia imaginou que essa conversa iria longe, então se acomodou na cadeira antes de prosseguir:
  - Do que se trata essa missão? - Perguntou Lukas novamente.
  - Eu não expliquei? Que discutido o meu. As missões de reconhecimento são missões onde os alquimistas devem ir á um determinado local para uma investigação detalhada, vasculhar qualquer vestígio e trazer um relatório final.
  - Relatório final? - Perguntou Samira.
  - Sim. Nem sempre ''atividade paranormal'' significa atividade de Oni. As vezes é apenas um mal intendido, e cabe a vocês comunicar a academia sobre tudo o que ocorreu no local. Porem, não pode haver nenhuma alteração. 
  - Então, deixa eu ver se intendi - Disse Diego - Nessa tal missão de reconhecimento, temos que ir ao local, descobrir a verdade e dar um fim no assunto?
  - Pelo visto você intendeu Diego - Disse Cássia
  - Finalmente intendeu alguma coisa - Disse Trevor.
  - O que você quis dizer com isso? - Perguntou Diego
  - Nada não.
  Samira pareceu se empolgar muito com a missão, já que não precisaria enfrentar ninguém, apenas olhar e anotar, sem falar que era um shopping.
  - Então, o que estamos esperando meninos - Disse Samira alegremente - Vamos para o shopping, quero dizer, para a missão.
  - Vamos então - Disse os três.
  Seguiram em direção a porta, quando Cássia chamou suas atenções. Os quatro viraram no mesmo instante.
  - Alquimistas, eu ainda não terminei de falar. - Ela respirou profundamente antes de continuar - Trevor não vai com vocês. Ele vai ter outra missão para cumprir.
  - O que? - Disse Samira - Ele não vai com a gente? 
  - Infelizmente não - Respondeu a bibliotecária - Sei que tiveram a primeira missão juntos, mas essa terão que ir vocês três sozinhos.
  - Hãm? - Queixou-se Diego - Isso não é justo. Por que Trevor tem que ir em uma missão de briga e nos em uma missão de reconhecimento?
  - Não é nada disso Diego - Disse Cássia - Ele também vai em uma missão de reconhecimento, só que em outro lugar.
  - Mesmo assim - Persistia Samira - Ele vai sozinho? Ninguém vai com ele?
  - Tudo bem Samira - Disse Trevor tentando acalma-la - Estou acostumado a ficar sozinho.
  - Deixem o papo de lado - Interrompeu Cássia - Agora, onde foi que eu coloquei o panfleto da missão do Trevor?
  A bibliotecária começou a procurar por toda a mesa, entre os livros, embaixo do acento, mais nada encontrou. Então gritou:
  - Agatha!
  Os quatro se entreolharam, perguntando mentalmente que era essa Agatha. Quando uma menina de dezesseis anos apareceu carregando uma pilha de livros de varias formas e tamanhos.
  Usava óculos redondos, parecia não ter tempo para pentear o cabelo, amarrar o tênis e muito menos para passar suas roupas, já que seu cabelo estava em um coque mal feitos e as roupas amarrotadas.
  - Sim Cássia-sama(1), em que posso ajudar? - Disse ela.
  - Onde eu coloquei o panfleto da missão do alquimista Trevor? 
  - Na primeira gaveta da sua mesa, senhora. Isso é tudo?
  - Tinha me esquecido que coloquei la. Sim, isso é tudo Agatha. Muito obrigada, pode se retirar.
  - Hai Hai(2). - E desapareceu atrás das estantes dos livros.
  Cássia pegou o panfleto, mas logo percebeu a cara de curiosidade dos quatros, sorriu e respondeu o que todos perguntavam mentalmente.
  - Aquela garotinha é a Agatha, me ajuda aqui na biblioteca. Juntas, passamos horas organizando registros e livros de todos os tipos. Ela esta estudando muito para ser uma alquimista de runas.
  Igual ao Digory. Pensou Lukas
  - Enfim - Continuou Cássia - Esta aqui sua missão, Trevor. - E entregou o panfleto a ele.
  Samira leu o panfleto por cima dos ombros de Trevor, o que era difícil, já que ele era maior que ela.
  '' Cemitério da cidade. Túmulos abertos e lapides quebradas. Suspeito de roubo e danificação de patrimônio publico. Acontecimentos á noite. C$5.000,00''
  - Um... Um cemitério - Samira, Diego e Lukas exclamaram.
  - E ainda de noite - Disse Diego meio assustado.
  - O que tem de mais nisso? - Disse Trevor tranquilamente - É só um cemitério comum, a noite, sendo iluminado pela luz do luar.
  A expressão de seriedade assustava os três ao seu redor.
  - E você não tem medo desses lugares? - Perguntou Samira.
  - Não, até que gosto. Ainda mias com o brilho do luar iluminando o local. Parece outro mundo para mim. Paz e tranquilidade. - Respondeu Trevor com um pequeno sorriso. 
  - Paz e tranquilidade? Em um cemitério? A noite? Com a luz da lua? Claro, muita paz, não existe lugar mais pacifico. - Ironizou Lukas.
  - Muito bem alquimistas, vou chamar o táxi para levar vocês ao seus respectivos destinos. Esperem no portão de entrada por favor. 
  - Cássia - Disse Trevor - Poderia pedir ao motorista para me deixar na metade do caminho?
  - Claro, mas por que?
  - Gostaria de andar um pouco antes de fazer essa missão.

  Em frente ao portão principal da academia, os quatro adolescentes esperavam o táxi.
  Não deu tempo para conversar, pois o carro amarelo estacionou poucos minutos depois deles saírem do interior da academia, com destino ao shopping e em seguida a um cemitério.
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(1) - Senhor ou Senhora.
(2) - Sim.

domingo, 8 de setembro de 2013

Ressonância 18º

Capitulo Dezoito


  Diego já não se sentia mais um estranho quando entrou na sala de aula. Todos agiam como se já o conhecessem. Vários foram em ao seu encontro e o cumprimentaram. Os meninos pareciam ser jogadores de futebol americano ou basquete. Altos, musculosos, com pinta de machões, mas no fundo são gente boa. As meninas eram exatamente iguais a lideres de torcida, corpo perfeito, cabelo impecável, roupas coladas e curtas. Já vi que vou me dar bem aqui? Pensou Diego.
  Ele se sentou próximo a porta e ficou conversando com os outros que estavam próximos dele. Ninguém perguntou de sua vida ou qualquer coisa do tipo. Falavam apenas de esporte, maquiagens e outros tipos de coisas que os populares sem cérebro adoravam falar.
  - Não parece ser uma criança do fogo - Comentou um dos moleques
  - Todos dizem isso - Resmungo Diego.
  Um estrondo se fez na porta quando uma mulher entrou na sala. Diego reconhecia aquele rosto de qualquer lugar. Syndely. Ele lembrava que ela não fora muito gentil com ele quando entrou na academia.
  - Bom dia - Disse ela secamente.
  A bagunça que antes havia na sala sumiu, todos os alunos estavam sentados, de coluna reta. Essa mulher coloca medo em todos, ate mesmo neles que parecem ser os mais bagunceiros e brigões daqui.
  - Muito bem vamos... - E parou quando viu Diego.
  Ela foi em sua direção e se inclinou para perto dele. Ela examinou cada centímetro do rosto de Diego, e não pareceu muito satisfeita com o que viu.
  - Você! - Seu animo era contagiante - Tinha me esquecido que que suas aulas começavam hoje. Vamos ver se você é mesmo uma criança do fogo.
  Diego engoliu seco. Não iria contrariar aquela mulher.
  Vendo que conseguiu o que queria, Syndely sorriu e voltou para a frente da sala.
  - Ela não é simpática? - Ironizou um garoto ao lado de Diego.

  Um sala organizada, onde apenas pessoas civilizadas estudam. É assim que as crianças da água são. Trevor não teve dificuldade em se enturmar, já que a sala era dividida em  vários grupinhos que conversavam baixo, e ninguém pareceu notar Trevor.
  Com quase todas as carteiras estavam ocupadas, restava apenas duas no centro da sala e um no canto perto da janela, onde Trevor sentou.
  Um homem, que aparentava ter uns vinte anos, entrou na sala. Usava uma roupa social e o cabelo perfeitamente alinhado. Sentou em sua cadeira e deu uma olhada pela sala. Parou os olhos em Trevor e acenou com a cabeça, voltando ao que estava fazendo logo em seguida.

  Depois de três aulas sobre demônios, habilidades e tudo que se possa imaginar, o sinal soou avisando o horário do intervalo. Saindo de suas respectivas salas, todos os grupos se misturaram formando uma enorme multidão, avançando para a cantina.
  Samira quase morreu pra chegar até o balcão e sair dele com um lanche. Esse povo, parece que nunca viram comida na vida. Queixou-se ela.
  Passando pelo portão da frente, encontrou Lukas sentados na escada comendo uma mini pizza de calabresa. Estava indo ao seu encontro quando foi chamada:
  - Samira - Gritou Jessie - Vem ficar aqui com a gente.
  - Arigato(1) - Respondeu ela - Mas vou ficar com meus amigos ali.
  - Ok, nos vemos na aula então.
  Samira continuou descendo as escada e sentou ao lado de Lukas. Não tinham muito o que conversa. Não tinham nenhuma novidade já que estavam juntos na mesma sala.
  Pouco depois Diego se juntou a eles e assim começaram as perguntas.
  - Como foi? - Perguntou Samira animada e curiosa.
  - Foi ate que divertido, os caras são gente boa - Respondeu Diego - E vocês?
  - Nada a reclamar - Disse Lukas - Os outros adoram conversar. E seu professor? Como é?
  De repente, Diego ficou serio, olhava para o chão como se esperasse algo interessante sair de lá.
  - É Syndely - Respondeu Diego - Aquela mulher é o próprio diabo, ninguém naquela sala ousa falar na presença dela. Ela é terrível. E a de vocês?
  Lukas e Samira se entreolharam por um instante. Eles deram uma gargalhada.
  - Demos sorte! - Gritaram eles batendo suas mãos  - A nossa é boazinha.
  - Vocês estão me avacalhando, não é? - Disse Diego aborrecido.
  Lukas e Samira comiam e riam da má sorte de Diego. Logo, Diego percebeu que Samira comia o mais rápido que podia.
  - Calma Samira - Disse ele - Assim vai engasgar. Pra que tanta pressa?
  - Vou procurar Trevor - Disse ela com a boca cheia - Ele sumiu depois que pegou alguma coisa na cantina.
  Ela engoliu o ultimo pedaço da mini pizza de quatro queijo e saiu correndo, acenando para os amigos.

  Samira olhou em cada canto. Escadas, quartos, jardim, salas, mas não encontrou Trevor em lugar nenhum. Passou por trás da escada espiral e foi para os fundos da academia, onde os pilares que sustentavam uma ponte que ligava duas salas, que Samira não sabia o que tinha dentro, faziam o gramado parecer uma blusa verde listrada.
  Ela passou ziguezagueando pelos pilares a procura de Trevor, mas nada achou. Quando passava entre os últimos pilares, viu a figura de um homem de capa com capuz azul marinho, comendo alguma coisa vermelha, não nítida, embaixo de uma arvore. Não deu muita atenção, e seguiu caminho passando de volta pela mesma porta que havia passado antes, indo para o interior da academia.
  O sinal tocou novamente e Samira não podia mais vagar pela academia a procura do sumido, decidindo voltar a procura-lo no final da aula.

  No momento da saída, Samira encontrou Trevor cruzando seu caminho.
  - Onde você estava? - Disse ela - Te procurei o recreio todo.
  - Eu estava de baixo da arvore comendo, você passou por mim e nem falou um ''oi''.
  - Era você? - Perguntou ela intrigada - Mas o que você estava fazendo lá?
  Ele começou a andar e ela o acompanhou.
  - Era um local quieto - Começou ele - Não sou muito fan de ficar em lugares com multidão.
  - Só você mesmo! - Foi a unica resposta que deu.
  Lukas surgiu entre os dois, envolvendo o pescoço de cada um com um braço.
  - E ai? - Começou ele - O que vamos fazer no resto da tarde?
  - Ir para o biblioteca, por que tenho algo para falar com vocês. - Disse uma voz familiar atrás deles.
  Dianna estava acompanhada dos outros três professores que deram aula naquela manhã. Ela dispensou os três e ficou do lado da Samira.
  - Preciso falar com vocês de um assunto importante. Descansem um pouco e depois vão até a Grande Biblioteca. Estarei lá o resto do dia. - Disse Dianna antes de sair caminhando.
  - Tem alguma ideia do que pode ser? - Perguntou Samira para os outros.
  - Uma missão talvez? - Perguntou Lukas.
  - Só um meio de descobrir - Respondeu Trevor.
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(1) - Obrigado

domingo, 1 de setembro de 2013

Ressonância 17º

Capitulo Dezessete 


  A academia era ainda mais sombria durante o crepúsculo. Samira e Lukas desciam a grande escada em espiral.
  Lukas viu o pé de Samira enfaixado e se sentiu cada vez mais culpa. Ele se sentia na obrigação de proteger os amigos e não gostava que outra pessoa fizesse.
  - Você esta bem mesmo - Disse ele - Digo, para andar.
  - Sim Lukas, já disse, agora vamos.
  Terminaram o caminho em silencio. Ao chegarem a porta da sala de Samantha, escutaram barulho de passos apressados vindo da escada. Diego vinha todo descabelado. Dormiu e esqueceu da reunião com Samantha. Pensou Samira. Tipico. 
  Ele usava a a camiseta do ultimo jogo que participou, que estava amarrotado por sinal. Estava descalço e totalmente suado, e isso era incrível, já que eles estavam entrando na época do frio.
  - Não estava no quarto, estava? - Perguntou Samira - Estava jogando basquete.
  - Não consigo dormir de dia. - Foi a unica resposta que deu.
  A porta da frente se abriu e Trevor se juntos aos amigos.
  - Onde estava? - Perguntou Lukas
  - Estava lá fora - Respondeu ele - Ajuda a pensar.
  Não intendendo bem os métodos de Trevor, Lukas bateu na porta.
 - Entre - Disse Samantha.
  A sala dela estava do mesmo jeito de sempre, na mais perfeita ordem. Tudo em seu devido lugar. Samantha se encontrava no mesmo lugar de sempre. Sua mesa não tinha mais nenhum papel e até as canetas estava arrumadas em ordem de tamanho.
  - São vocês - Começou ela - Como foi a primeira missão de vocês?
  Não se sabe quem ficou mais vermelho de raiva, Lukas ou Samira.
  - Como foi? Como foi? - Gritou Lukas - Você manda a gente para a morte e pergunta como foi?
  - E ainda manda irmos que as roupas mais confortáveis, para que? - Continuou Samira - Sermos mortos com estilo e enterrados com nossa melhor aparência?
  - Agora eu intendi o por que do ''boa sorte'' - Refletiu Diego.
  Trevor permaneceu em silencio.
  Samantha não pareceu impressionada com a atitude dos três, como se todos falassem isso depois da primeira missão.
  - Calma vocês três - Disse Samantha - Não precisa de tanto drama assim.
  - Não precisa de tanto drama? - Indagou Lukas - É claro que precisa de tanto drama, quase morremos lá.
  - Era uma missão de nível baixíssimo - Completou Samantha.
  - Desculpe Samantha - Começou Trevor - Mas tenho que discordar, o que enfrentamos lá esta muito além de ''baixíssimo'', não havia apenas onis lá dentro. Tinha pessoas poderosas lá. Alquimistas talvez, mas estavam do lado dos onis.
  Samantha ficou quieta por alguns instantes antes de falar:
  - A unica coisa que tinha lá dentro era os onis.
  - Mas aquelas pessoas... - Começou Samira antes de ser interrompida por Samantha
  - Jorraram sangue negro quando vocês desferiam golpes, desapareceram quando foram mortos. Isso soa familiar?
  - Esta nos dizendo que aqueles também eram... - Começou Diego
  - Sim. Eram onis. Eles são criatura das sombras, o medo é a alegria deles. Eles são simples animais demoníacos quando nascem a partir de uma saudade ou uma perda de um ente querido, as pessoas não aceitam o fato de seus semelhantes estarem mortos, assim eles são criados. Mas aprenderam a crescerem e ficarem mais fortes. A alma de um humano é poderosa, e a alma de um alquimista é mais poderosa ainda. Quanto mais almas um Oni possuir, mais forte ele fica. Por isso aqueles que vocês enfrentaram pareciam humanos, eram evoluídos. Quanto mais fortes, mas parecidos com os humanos eles ficam.
  - Isso é ruim, muito ruim - Concluiu Lukas - Matar pessoas? Isso é terrível.
  - Isso não é tudo - Continuou Samantha - Não sabemos ao certos quantos são os níveis de Onis, a unica coisa que se podemos ter certeza é que aqueles que parecem cachorros são os de nível mais baixo.
  - Faz sentido - Disse Lukas - O cara que Samira e eu enfrentamos podia controlar os onis de nível baixo.
  - Mas alguma coisa me diz que você não nos chamou para conversar sobre a missão. - Disse Trevor.
  - Sim - Respondeu Samantha.
  Ela se levantou e e pegou da gaveta um pequeno baú de madeira, colocando em cima da mesa. Samantha era muito imprevisível e não dava para ler as expressões em seu rosto.
  - O que é isso Samantha? - Perguntou Lukas.
  Ela apenas sorriu. Lukas percebeu que ela segurava uma pequena chave dourada, do tamanho de uma caixinha de fosforo. Colocou na tranca do cadeado e girou a chave. Os três se inclinaram para ver o que era. Samira tinha a impressão que Trevor já sabia o que tinha la dentro, já que era o único que não estava interessado no que tinha dentro da caixa.
  Samantha abriu a caixa com a menor velocidade que podia. Dentro havia quatro broches enfileirados com o simbolo da academia repousando em uma almofada cor vinho.
  - Bem vindos a Academia Canadense de Treinamento e Acolhimento ao Alquimista.- Disse Samantha orgulhosa.
  - Que Kawaii (1) - Disse Samira alegremente.
  Cada um pegou um dos broches enquanto Samantha continuava falando:
  - Esses broches devem ser usados todas as vezes que vocês partirem para uma missão. Aconselho a já colocar nas roupas que vocês usarão eventualmente em missões.
  - Mas as roupas estão destruídas - Disse Samira.
  - Já demos um jeito nisso. - Concluiu Samantha - Agora vão para cantina jantar e depois para seus quartos.
  - Hai (2) - Disse os quatros.
***
  Lukas estava deitado em sua cama pensando na vida. Max dormia e roncava na cama de baixo, o que dificultava Lukas de dormir. A luz do luar passava pela janela e iluminava quase todos os moveis. Com as mãos sob a cabeça, ele refletia sobre esses dias malucos que teve. Revelações, lutas, feridas e mais revelações. Olhou para seu braço. A marca criada por ser um espiritualista parecia mais clara do que o normal. Sera que Kaze é o único espirito que lutará ao meu lado? Sera que encontrarei mais espíritos ao longo do caminho? É muitos ''Seras''. 
  Se entregando a exaustão, virou-se para o lado e dormiu.

  O corredor das crianças do fogo era o mais barulhento dos quatro, era radio ligado ate altas horas da madrugada, brigas e barulhos. Os alquimistas eram proibidos de sair do andar de seus dormitórios depois do toque de recolher e não podiam entrar no corredor dos outros elementos, mas não dizia nada sobre ficar acordado durante a madrugada. Diego não era um homem de se preocupar com as coisas. Deitou na cama e dormiu, como se estivesse na própria casa. Ele sabia que seu colega de quarto chegaria no meio da madrugada e não se importava com o barulho. Apenas deitou e dormiu.

  Lendo seu mangá, Trevor viajava no mundo dos desenhos japoneses. Assim como Samira, Trevor não tinha colega de quarto, o que deixava-o com mais privacidade.
  Ele olhou para o lado e viu o broche em cima da escrivaninha. Ficou um bom tempo olhando para o objeto. Sua expressão era de seriedade profunda.
  - Algo me diz que nós vamos passar por muita coisa juntos pequeno broche. - Disse ele
  Por fim, acabou dormindo antes de terminar de ler o mangá.

  Samira estava como o broche na mão. Olhava o objeto brilhar com a luz da lampada. Achava aquele objeto muito lindo e não parava de olhar para ele.
  Seu pé havia melhorado muito, e ela já conseguia senti-lo, mas não teve coragem de desenfaixa-lo.
  Passou a maior parte do tempo que estava acordada pensando no que falaria para sua mãe caso ela descobrisse. Não poderia ficar mentindo pelo resto da vida, poderia? Colocou o broche na escrivaninha e virou-se para o lado. Uma vida diferente, fora do normal. É isso que eu quero para mim? E antes que pudesse responder para si mesma, adormeceu.
***
  Samira acordou com um barulho irritante vindo de todos os lados. Levantou em um salto prometendo matar quem quer que fosse que estivesse fazendo aquela barulho. Ela abriu a porta do quarto no mesmo instante que Lukas abriu o dele. Estava descabelado e com cara de noite mal dormida.
  - O que esta acontecendo? - Perguntou Lukas.
  Um menino do quarto ao lado ouviu a pergunta e respondeu:
  - É o sinal para todos acordarem, aqui também temos aulas sabiam? Agora é melhor vocês se trocarem antes que o segundo sinal bata. - E foi para a saída do corredor.
  - Aula? - Disse Samira - Aqui?
  - Parece que até aqui tem um lado ruim - Completou Lukas, fechando a porta.

  Mais uma vez os quatro foram separadas por causa dos elementos. Primeiro Dianna levou Trevor ate a sala onde ele ficaria, logo depois levou Lukas e Samira ate a sala deles. Deixou eles na porta e acompanhou Diego ate a próxima sala.
  - Animada? - Perguntou Lukas.
  - Nem um pouco.
  Os outros alunos não pareceram se importar com a presença deles. Havia dois lugares vagos, porem longe um do outro. Lukas sentou onde havia mais meninos e Samira onde havia mais meninas.
  Tinha no máximo vinte e cinco alquimistas ali, de varias idades.
  - Olá - Disse uma menina que estava do lado de Samira - Meu nome é Jessie e essa e Emilly - Disse apontando para a menina que estava sentada atras dela - e o seu?
  - Samira.
  A menina se ajeitou na cadeira e ficou de frente para Samira. Tomou folego para falar, mas foi interrompida pela amiga.
  - Uma movimentista - Disse Emilly - Igual a você Jessie.
  Emilly parece aquelas alunas exemplares de ensino médio...Usava óculos e sua roupa era impecável. Jessie parecia ser a ''amiga de todos'', sempre sorridente e alegre.
  - Igual a mim? - Disse Jessie - Isso é incrível.
  - Como? - Perguntou Samira com muita curiosidade.
  - Eu tenho a capacidade de ver a habilidade das pessoas só de olhar para elas. O nome aparece escrito em cima da cabeça, bem ali. - Disse Emilly apontando para o topo da cabeça de Samira.
  - O que você pode mover? - Perguntou Jessie interessadíssima.
  - Sei la - Disse Samira - Qualquer coisa eu acho.
  - Qualquer coisa? - Disse Jessie impressionada - Isso é mais incrível ainda.
  O dialogo entra as três continuou por um longo período. De vez em quando Samira olhava para Lukas, que conversava com alguns garotos e as vezes ouvia as conversas deles.
  - Você fez um tatuagem? - Perguntou um. - Não doeu?
  - Bom, na verdade sim, mas não foi bem eu que fiz. Faz parte da habilidade que tenho.
  - Habilidade de fazer tatuagens? - Perguntou o mesmo garoto.
  - Quem é aquele? - Perguntou Jessie, fazendo Samira voltar a atenção para ela.
  Mas antes que ela respondesse a porta se abriu e Dianna apareceu com alguns papeis na mão.
  - Bom dia - Disse ela alegremente.
  Todos  responderam e foram para os seus lugares. Após um momento de apresentação entre os dois novatos, Dianna pediu que um dos alunos demonstrasse a habilidade que tinha. Jessie levantou a mão mais que depressa e foi até a frente da sala.
  - Oi - Disse ela com um sorriso no rosto - Eu sou Jessie e sou uma movimentista, posso mover meu corpo para qualquer direção e sentido que eu quiser.
  Ela se concentrou e uma seta surgiu embaixo dela e a jogou para um lado da sala, mas antes que ela pudesse bater na parede, outra seta se formou mudando a direção dela, assim ela deu a volta na sala usando sua habilidade e voltou para o mesmo lugar.
  Incrível. Pensou Samira. Ela consegue formar setas em milésimos de segundo. Ela é muito poderosa. 
  - Pode se sentar agora Jessie - Disse Dianna - E agora vamos começara a aula.
  Ela fez tudo aquilo sozinha e sem nenhum suor. Concluiu Lukas. Samira também chegaram a tal ponto? Ela conseguirá fazer tal feito?

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(1) - Bonitinho(a) ou fofo(a).
(2) - Sim.